Review: Primal Planet deixa a desejar como metroidvania e capricha na temática

primal planet

Já faz um tempo que percebo os metroidvanias não figurarem no meu apreço por videojogos. Na verdade, os ando evitando ao máximo, apesar de saber da existência – e de ter alguns – tesouros do gênero. Isso se deve muito à minha estupidez para navegar pelos tradicionais mapas, mas venho jogando muitas mediocridades por aí também, o que acredito contribuir para a minha infeliz antipatia. 

Com Primal Planet, da Seethingswarm, não foi diferente. Passei a maior parte do tempo com ele frustrado e estressado por causa de mecânicas mal exploradas, insuficiência de alguns recursos de sobrevivência e um design de nível e de experiência do usuário tenebrosos. Explico mais adiante.

Acredito no poder do gênero e como é capaz de conquistar muitos corações, o meu incluso. O recente Prince of Persia: The Lost Crown, apesar de não ter chegado ao final, é um ótimo exemplo. Infelizmente, Primal Planet deixa tanto a desejar que é difícil saber por onde começar… Mas vamos partir do início:

Fuja de diversos dinossauros e lute por um amanhã em Primal Planet.

Nesse metroidvania (ou “dinovania”, como prefere chamar quem desenvolveu o jogo), você é um homem das cavernas com uma esposa e uma filha. De imediato, o perigo do mundo se apresenta: um enorme e ameaçador T-Rex surge e ameaça essa linda família e os perseguem furiosamente. Numa correria insana, é preciso se esconder e fugir daquele local logo e encontrar sua aldeia, momento em que o jogo apresenta sua jogabilidade de movimentação pelo cenário e as mecânicas iniciais de ataque.

De imediato, é possível ver a construção do mundo em grandes áreas, divididas em retângulos coloridos e minuciosamente encaixados no grande mapa do jogo, definindo muito bem cada bioma. Como um clássico metroidvania, há diversos acessos de um lado para o outro do mapa, ditando a navegação pelo mundo inteiro e contendo itens específicos distribuídos que liberam áreas cada vez mais distantes. Ao longo da exploração, é possível encontrar grande variedade de dinossauros, insetos, mosquitos gigantes, uma rica fauna marinha, além de outra aldeia de humanos mais violentos, e até um inimigo peculiar: alienígenas. Nem todas as criaturas deste mundo são agressivas, mas você sempre pode atacá-las e ganhar pontos de experiência por isso.

Evoluir materiais e melhorar consumíveis é essencial para avançar pelo mundo.

Até certo ponto, é preciso resgatar sua família e salvar os antigos aldeões da sua vila. É aí que você se encontra mais livre para explorar e alcançar os grandes objetivos dados pelas circunstâncias narrativas na companhia do seu parceiro dinossauro, o Sino, que ajuda muito no combate. Quanto mais se avança, mais recursos do mundo são coletados, mais experiência é adquirida e o mapa vai se abrindo. 

Ao longo da jogatina, é possível criar mais armas, aumentar habilidades, melhorar a agressividade e a agilidade (tanto as do protagonista quanto as do Sino), criar materiais de suporte e cozinhar carne para curas. Existem santuários e mapas espalhados pelo mundo que garantem boa quantidade de experiência quando ativados. Coletar todo recurso vegetal e animal que encontrar pelo caminho é a dica de ouro, inclusive.

A história da Primal Planet é brutal! Desde o início ele reforça os desejos de vingança do protagonista e constrói uma trama envolvente, mas tudo gira em torno de mecânicas e premissas muito, muito simples que logo perdem a graça ou caem no esquecimento.

Ao longo da sua jornada, haverá muita ajuda de aldeões companheiros e de Sino, o dinossauro

Nesse clássico metroidvania se misturam elementos de sobrevivência e de RPG em que me vi muito perdido e desgostando da experiência como um todo. Sim, Primal Planet não me agradou. Ele tem muitos defeitos, além de perder a qualidade de “buscação” (metroidvania) ao tentar integrar estes elementos ao jogo, e consigo listar alguns aqui. Vamos a eles!

Apesar de ter um combate e uma exploração bastante amigáveis, tudo é muito simples. A exploração realizada no cenário não é salva no seu mapa, caso você morra sem chegar em algum ponto de salvamento (uma fogueira ou só atravessar de uma dobra para outra do mapa), o que pode frustrar demais… Especialmente nas extensas áreas marinhas do jogo, onde é necessário saber quando mergulhar, poupar oxigênio, encontrar áreas seguras e ainda lidar com piranhas, dinossauros e outros peixes abissais extremamente agressivos e fortes.

Como mencionei antes, Primal Planet ainda sofre de problemas graves de level design: muitos recursos são mal distribuídos pelo cenário, deixando a navegação bem limitada muitas vezes, por exemplo, endossando uma dificuldade desnecessária para seu escopo; e [problemas] de experiência e interface do usuário: a navegação do mapa em si não está nada intuitivas, as habilidades compradas não são diferenciadas das disponíveis (tanto as do protagonista e do Sino quanto as de companheiros das aldeias que podem te ajudar na jornada) e, o que é pior, a sinalização dos mapas é terrível!

Em Primal Planet, somente santuários, fogueiras, objetivos maiores e passagens para outras áreas estão indicados, uma vez que seria útil saber sobre dinossauros maiores, passagens bloqueadas e zonas perigosas (venenosas, p. ex.). Entretanto, não é uma questão que incomoda demais durante a jogabilidade. Qualquer Metroid que vier à mente possui um mapa mil vezes melhor e com sinalização mais adequada. 

Esse mundo pré-histórico tem ciclo de horas do dia e biomas fascinantes que deixam tudo mais interessante e orgânico

Viagem rápida? Pode esquecer. Aqui isso não existe e você precisa atravessar regiões inteiras a pé, no máximo usando determinado item que é encontrado quando se está bem próximo do final do jogo, mas que apenas ajuda em saltos de quadrantes do mapa – nada muito útil. Para piorar a situação, todos os objetivos são mostrados no mapa ao mesmo tempo, o que dispersa a atenção e não dá a menor legibilidade no que é realmente prioritário de memorizar ou até de entender nos mapas, tornando tudo muito encriptado. Céus… Como “só” isso deixa tudo tão maçante!? Talvez 90% do tempo de jogo para mim foi apenas cruzando o mapa de uma ponta a outra.

Quando tudo isso se soma, é possível encontrar um jogo medíocre. Mesmo tendo uma boa jogabilidade e uma sensação minimamente prazerosa de exploração, esse título peca em todos os aspectos. 

Primal Planet, nos seus primeiros minutos, empolga, engaja e mostra uma trama interessante, além de ter controles responsivos e bem fluidos, mas isso tudo não dura. Por menor que seja e mais intuitivo ele possa parecer, muitas de suas mecânicas fora do escopo “dinovania” acabam entregando mais frustração que diversão, além de entediar até mesmo no seu gênero principal. E é assim que considero esse jogo como uma das grandes decepções do ano.

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