Review: Tiny Bookshop é um refúgio confortável para amantes da leitura

tiny bookshop

Imagine uma cidade pequenina, chamada Bookstonbury, onde você abre uma livraria itinerante. Você só não esperava viver aventuras, criar laços fortes com os moradores, enriquecer a cultura local e ainda vender cada vez mais para todos os públicos de todas as idades. Tiny Bookshop é uma carta de amor a quem gosta de leitura e entrega muito conforto em infindáveis horas de pura imersão literária.

Como um ex-livreiro, foi difícil não bater de cara com a real experiência que esse jogo comunica: uma vez aberta a livraria itinerante, movida por um carro antigo, você age como um profissional do ramo, socializando com os locais, vendendo  e indicando o melhor do mundo literário a todo mundo. Os livros, adquiridos por um jornal local aberto em cada novo dia, se limitam em temas comuns, sendo eles de crime/suspense, não-ficção, viagem, infantil, clássico, fantasia/sci-fi e drama. Seu loop de vendas também gira em torno de um calendário, repleto de eventos fixos e variáveis que guiam a narrativa, eventos festivos e climáticos e dispõe uma série de missões específicas atreladas aos personagens, algo bem similar aos Persona, inclusive.

Cada cantinho de Bookstonbury é lindo e aconchegante; cada personagem é envolvente e profundo.

E que personagens! Que narrativa! Claro que a mecânica central de combinar cada temática com cada local e seu público frequentador é muito satisfatória e bem reconfortante (“a cada leitor o seu livro”, já dizia Ranganathan), preenchendo suas prateleiras estrategicamente com livros diversos, mas o jogo brilha mesmo na sua história! 

Toda a construção da cidadezinha, dos personagens e do ritmo da sua narrativa é uma experiência muito gostosa de se ter, se encaixando perfeitamente entre os jogos “cozy”. Tive gosto em acompanhar cada uma das missões dos personagens (uns melhores que outros, claro… Klaus, Tilde, Fern e Moira são incríveis e eu quis morar dentro do jogo, junto com eles!) e o desenrolar das suas tramas, contribuindo com seus maiores propósitos. Não só isso, como a história toda converge para um bem-estar comum e a boa convivência entre eles e toda a vila, enriquecendo a ambientação e a energia pacífica e muito aconchegante do jogo inteiro.

Complementando os objetivos de ajudar cada personagem principal e secundário, há uma mecânica de recomendações em que o dia corrente, com a livraria aberta, é interrompido e você precisa indicar um título que combine com a demanda deles. Demanda esta que é construída em duas ou mais frases, estimadas em dificuldades de 1 a 5, cabendo a você selecionar o livro mais adequado. Nada traduz melhor a experiência real de ser um livreiro, é uma das nuances mais prazerosas e recompensadoras (do jogo e na vida real, né, porque não?!). O repertório vai de mangás populares, como Dragon Ball, até clássicos mais cabeçudos, como Matadouro 5 (Slaughterhouse-Five, de Kurt Vonnegut).

Recomendar livros é uma mecânica muito interessante, apesar de bastante repetitiva.

Com o tempo, é possível dominar facilmente as recomendações e entender padrões de venda em cada lugar da vila. Por mais interessantes que as pequenas quests fossem, sempre havia um fator sorte que atrapalhava e deixava a experiência toda mais arrastada, esticada. Talvez seja um prolongamento proposital para justificar o gênero e a proposta do jogo, mas, considerando o conjunto da obra, isso torna as coisas mais difíceis e maçantes a longo prazo. 

Essas missões lentas e meio bugadas às vezes também me fizeram perder muitas boas horas só na tentativa e erro, adiando cada vez mais o suposto desfecho desse pequeno mundinho tão mágico e confortável.  A falta do português num jogo que é 99% de jogabilidade em texto é uma barreira enorme também, mas me deparei com uma escrita relativamente fácil em inglês. 

Embora Tiny Bookshop não deixe claro que há um final definitivo, sendo um desses em que você investe horas e horas, sem se preocupar com um desfecho (jogo “infinito”), ele ainda concede muita diversão, uma narrativa muito única e um cantinho muito, muito confortável para fugir do dia a dia caótico. Na medida em que jogava, muito entretido, sempre me via muito incentivado a ler algum livro depois de desligar o videogame também (principalmente os de fantasia e sci-fi, meus favoritos). Ser confortável e passar uma mensagem otimista, bucólica e carinhosa são seus primores e só isso já ganha um valor imenso e, claro, minha recomendação do coração. Livros e games pra vida toda!

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