Review: Metroid Prime 4: Beyond não tem cavaquinho, mas garante uma bela Vi-O-La

metroid prime 4

O fã de Metroid sofre. Mas sejamos sinceros? Quando o assunto é franquia da Nintendo, é difícil não haver alguém que nunca passou por um perrengue à espera de uma novidade vinda dela em algum momento de sua vida. No entanto, a saga estrelada pela caçadora de recompensas espacial Samus Aran é um caso especial, digno de estrelinha. 

Em 2017, dez anos após o lançamento de Metroid Prime 3: Corruption, a espera por uma continuação finalmente parecia ter dado frutos, com o anúncio de que Metroid Prime 4 enfim estava por vir. Mas, para a tristeza de muitos, ele demorou muito mais do que o esperado para finalmente chegar. Depois de trocar de mãos, passando da Bandai Namco para a Retro Studios, a equipe desenvolvedora original da série Prime, Metroid Prime 4 – agora com o subtítulo Beyond – está, enfim, entre nós.

E aí? A espera valeu a pena? Considerando que se passaram 18 anos desde o último, sem contar Metroid Prime: Federation Force, de 2016, que, convenhamos, chegou tão longe do gol que nem bateu na trave, seria quase impossível atender a todas as expectativas dos fãs de longa data. Ok, você deve estar querendo uma resposta curta, então aí vai:

Mais ou menos.

Metroid Prime 4: Beyond é uma experiência fragmentada, como um quebra-cabeças sem uma imagem definida para se montar. O resultado final lançado há duas semanas – tanto para Nintendo Switch quanto para o Switch 2 – tem elementos que constituem um Metroid Prime, além da inclusão um tanto bizarra de uma moto, veículo com o qual você viaja em um deserto, que como um bom deserto carece de muitas coisas, de um ponto ao outro repetidamente.

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Vocês mas não irão escapar da fúria psíquica de Samus Aran. Tomem isso!

Tais pontos trazem a jogabilidade que fez dos outros capítulos da série as joias dos olhos de seus adoradores, mas sem grandes novidades, ou melhor, sem nenhuma novidade. Samus Aran, como de costume, perde seus poderes no início da aventura, ao chegar no planeta Viewros, lar da raça Lamorn, tão enigmática (se não ainda mais!) que os Chozos, e no decorrer de Beyond, ela acaba ganhando “novos” sob forma de capacidades psíquicas, como sua salvadora. Até aí, tudo bem, mas por que todos tinham que praticamente ser versões roxas e de opacidade de menos de 100% dos que já conhecemos de outros Metroid?

Morfosfera-aranha? Temos. Aumento da capacidade de pulo? Com certeza. O arpéu? Pode apostar. Quase tudo já visto antes. Até o visor de varredura agora é atrelado às novas capacidades de mente da heroína. Em 8 anos de desenvolvimento, não deu para criar algo inédito, ao invés disso, recorreram ao estabelecido. Por outro lado, isso é algo necessariamente ruim? Não se diz que não se muda um time vencedor, afinal? Se fosse o caso de uma opção de jogar consistente e de maneira uniforme excelente, com certeza, mas esse não é o caso de Metroid Prime 4: Beyond.

Há partes em que tudo fica lento, quase parado, onde para continuar é necessário analisar todo e qualquer objeto em tela a fim de descobrir o elemento que os desenvolvedores querem que você veja para então dar continuidade. O que antes era só uma faceta curiosa, a de poder receber mais informações do mundo que cerca o jogador, em Beyond, é uma obrigação. Se essa aplicação fosse feita bem, até que não seria um empecilho, mas é. Tudo, praticamente TUDO encontrado no seu caminho pode ser lido, mudando e necessitando ser visto outra vez depois de usado, algumas vezes sem aviso prévio.

Outro problema é Vi-O-La, a moto que Samus recebe para percorrer a vastidão de Viewros. Por si só, ter uma motoca em um videogame é algo normalmente legal, e sua apresentação é sim, bem bacana mesmo, mas a fascinação termina quando se descobre para que ela é usada. As poucas fases de Metroid Prime 4: Beyond ficam nas bordas e no meio de um enorme mapa desértico sem muito o que fazer a não ser acelerar, pular umas rampas, e atirar em poucos inimigos. 

Isso não seria uma questão grandiosa se não houvesse a necessidade de revisitar essas localidades repetidas vezes, porque para se conseguir novas habilidades e itens, a cartilha que caracteriza os Metroid, é preciso ficar indo e vindo entre essas áreas no decorrer da jornada. Elas já não são muitas para começo de conversa, então ficar percorrendo não só o deserto mas também seus mapas cheios de corredores e muitas portas muitas vezes em pouco tempo torna-se cansativo bem rápido.

Metroid Prime 4
Vroom-VROOM!

Um dos pontos mais polêmicos da vez são os personagens secundários que interagem diretamente com Samus. Metroid Prime 4: Beyond não é uma aventura solitária, mas cooperativa, por assim dizer, porque nossa aventureira não foi trazida sozinha para Viewros. Ela tem a ajuda de Miles, um engenheiro da Federação Galáctica, que lhe dá dicas para onde seguir viagem, além de ser o cara que a confere novas armas, entre outras figuras que pingam e agregam ao quadro de funcionários conforme a história avança. 

Apesar de todo o estardalhaço feito na Internet depois do trailer pré-lançamento, não é o diálogo incomoda nesses coadjuvantes de Samus, que em unanimidade são bem escritos e atuados, e sim a necessidade de existirem e a caracterização dada à protagonista durante as “conversas” entre eles. As aspas estão aí porque não há papo algum, mais um monólogo, porque a moça não abre o bico, mesmo com todos sabendo que ela fala – só lembrando de Metroid Other M, que foi criticado, ironicamente, porque Aran não calava a boca. Havia espaço para um meio-termo. 

Mesmo que os outros Prime contassem com o isolamento como uma parte importante da ambientação, sua falta não é o que mais incomoda aqui. Já que temos outros personagens falando com ela, custava ter pelo menos algumas falas para Samus? Até o Master Chief troca umas palavrinhas com aqueles ao seu redor, pelo menos às vezes. Desse jeito, ela parece a prima perdida do Doom Slayer, outra personagem de videogame lacônica que só é desse jeito para ser. Com certeza, esperávamos mais nesse quesito.    

Mas quando os fragmentos que fazem Metroid Prime tão bom cantam, eles entregam uma canção belíssima, mesmo não sendo uma composição inédita. O mais importante é o da ambientação, e nisso o acerto é grande aqui. Dados os novos gráficos, que em especial no Switch 2 estão lindos, rodando a 120Hz tanto no modo portátil como de mesa. Nunca houve um jogo da série tão bonito, mesmo um sem tanta variedade visual quanto este, comparado aos seus antecessores. O mesmo pode ser dito de sua trilha musical, uma das suas partes mais caprichadas, com temas que remetem ao Prime original e até o primeiro Metroid, do Nintendinho.

Seguindo a nova estratégia da Nintendo em trazer produtos localizados, Metroid Prime 4: Beyond chega ao território brasileiro todo traduzido para o nosso idioma. Há uma quantidade absurda de texto e todo ele foi muito bem adaptado ao Português Brasileiro, fazendo bom uso de gírias e figuras de linguagem do Brasil, conferindo a ele uma voz própria e natural, mesmo faltando uma dublagem dedicada, mantendo o Inglês original para isso. Dá para considerar este lançamento um passo importante e um sinal de que há boas chances de futuros lançamentos que venham a conter ainda mais conteúdo escrito receberem o mesmo tratamento, com toda a certeza. E se isso não acontecer, não precisam vir nos cobrar, combinado? Só postamos reviews!

Brincadeiras à parte, a palavra final sobre Metroid Prime 4: Beyond é uma recomendação cautelosa, em especial para aqueles que chegam nele com as mais altas expectativas. Pode se tratar de um novo Prime, mas desaponta por não trazer novidades de grande peso para a série, mesmo com tanto tempo de desenvolvimento. Os problemas de ritmo e as enchidas de linguiça arenosa também não ajudam, mesmo sendo divertido por boa parte de sua duração. Beyond é um dos títulos mais bonitos lançados no Switch 2 até agora, mas ainda não é o que vai fazer você querer sair de casa e esvaziar o bolso para comprar um console novo se ainda não o fez.

O Entertainium Brasil agradece a assessoria da Nintendo no Brasil pelo envio do jogo para a produção deste review.

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